17 de janeiro de 2014

Menino do Rio

"- Ei, vai rolar festinha com os calouros do curso, ta afim de ir?
- Vai lá, cara, não to no clima de festa hoje não.
- Que bicho te mordeu, Mateus?
- Sei lá, acordei meio assim pra baixo hoje. Acho que é saudade de casa, família, sei lá. Vai lá e aproveita por nós dois.
- Não quer que eu fique aqui contigo?
- Não precisa, Flavinho, eu vou ficar bem. Vai lá e depois me conta como foi. Quero fotos comprometedoras, ok? - rimos.
- Tô indo. Qualquer coisa me liga. Um beijo."



Início de semestre na faculdade é sempre uma festa. Lembro bem da expectativa geral pra conhecer os novos calouros e a mobilização pra organizar as memoráveis calouradas, sempre regadas a muito álcool e beijo na boca, claro. Eu sempre fui mais na minha, aproveitava a festa sem exagerar na bebida só pra não perder nada. Coisa de mineiro, observador, come quieto. Também preferia a sobriedade pra poder registrar a insanidade da galera. Fotografia era minha grande paixão, desde pequeno. Sempre tive muito medo de crescer e não perceber a vida passar. Fotografar cada segundo possível dos meus dias era uma forma de manter tudo e todos sempre comigo.

Engraçado é que criei certa fama no curso de Publicidade e virei o fotógrafo oficial das comemorações. Mesmo depois de ter concluído o curso, não deixei de receber convites pra aparecer, conhecer os bixos e rever o pessoal que ainda andava por lá. Ontem eu fui numa dessas recepções, talvez a mais insana de toda a minha vida até o momento. Praia deserta, fogueira e um tunts-tunts seguido de luzes que pareciam não acompanhar o ritmo frenético de tantos corpos. 

Demorei a identificar um rosto conhecido e até lá fiz uso da minha cara de paisagem tão costumeira. Até que ouvi meu nome e alguns amigos se aproximaram já com uma dose de tequila para um brinde. Brindamos em nome da liberdade e seguimos pra o meio da pista de dança improvisada no meio da areia.  Disparei alguns flashs, conheci meia dúzia de calouros, todos animados demais e bêbados em um nível ainda sociável a ponto de recordarem do próprio nome e conseguir manter uma conversa sem travar a língua ou rir incansavelmente. Senti falta do Mateus ali comigo, mas ele andava meio pra baixo e preferiu não aparecer. 

Já era alta madrugada quando um grupo resolveu tirar a roupa e cair no mar. A parte insana da festa coube a esse momento já que ninguém parecia ter mais um pingo de juízo. Nada de grave aconteceu, mas aquela cena toda aguçou meus sentidos em todos os sentidos. Motivo? Rafael: quase 1,85 de altura, olhos claros, cabelo raspado e o corpo mais bem definido que eu já pude observar de perto totalmente nu. Havia conversado com ele logo no início da festa. Se não me engano, tinha 25 anos e morava no Rio de Janeiro. Não era calouro. Veio a convite de um primo, Ricardo, que estava quase se formando.

Completamente desinibido, Rafael saiu do mar a passos lentos, exibindo os músculos, o sexo e um sorriso de ponta a ponta. Coincidência ou não, mas sem perceber que eu observava, veio em minha direção. Havia deixado suas roupas a poucos metros de onde eu estava, num montinho de areia. Aproveitei sua distração e o fotografei. Me senti um ladrão roubando sua intimidade tão provocativa. Uma intimidade que já parecia tão minha, capturada pelas minhas lentes, pelo meu olhar curioso e pelas borboletas no meu estômago que levantaram vôo alvoroçadas.

- Ei, não caiu na água por quê? – disse ao se aproximar.

Levantei a câmera como quem carregava um fardo que não poderia ser deixado de lado e ele fez cara de quem havia entendido. Sem se importar com sua nudez, desistiu da tentativa de vestir o short e sentou na cadeira ao meu lado. Apesar de todo magnetismo que me fazia contornar com os olhos cada traçado do cara ao meu lado, minha timidez – que aparece sempre nos momentos mais inoportunos – me obrigava a fitar o céu, meus pés, o mar que balançava calmamente. Ele conversava meio sonolento, fazendo seu sotaque de malandro carioca soar bem mais excitante aos meus ouvidos. 

- E aí, tá sozinho aqui? – perguntou.
- Mais ou menos. Sou amigo de um pessoal ali. Me chamaram pra fotografar a festa. Já é quase que minha “obrigação” desde que entrei no curso. Me divirto sempre.
- Tira uma foto minha? 
- Uma foto? Sua? – olhei meio desconcertado pelo pedido.
- É uma foto. Ou essa câmera aí é só de fachada pra impressionar caras como eu?

“Impressionar caras como eu”. Aquela frase ficou fazendo giros na minha cabeça por segundos que pareceram eternos. Sem jeito, liguei a câmera e disse “olha pra mim”. Ele se virou e abriu o sorriso mais provocante, daqueles que a gente guarda pra usar na hora da conquista. Eu sorri incrédulo e capturei aquele momento. Rafael tava me dando bola numa situação totalmente atípica, largado numa cadeira de praia, no meio da noite, no meio do nada.

Muita gente já havia ido embora e pequenos grupos ainda permaneciam ali, a alguns metros, bebendo e fumando ao redor do fogo. Comentei qualquer bobagem sobre a festa, sem ainda conseguir fitá-lo nos olhos. Ele respondeu algo sem importância e me encarou por alguns segundos.

- O que foi? – perguntei sem jeito.
- Nada, eu acho. Você parece incomodado com a minha presença. 
- Impressão sua.
- Não é não. Você não consegue me olhar nos olhos pra conversar. Se quiser eu te deixo aqui, sem problemas – disse isso fazendo menção de se levantar. 

Segurei seu braço com força e o fiz sentar novamente. “Fica”. Ele se sentou virado pra mim, me encarando até encontrar meu olhar. Então nos olhamos. Minha mão não desgrudou seu braço forte, grudada em sua pele feito o sal que impregnou todo seu corpo. O silêncio que se seguiu foi intenso. Rafael exerceu sobre mim um poder absoluto que dominava meu corpo, naquele momento totalmente entregue. Por debaixo do short, meu pau já demonstrava toda a excitação que eu sentia. 

Ele me beijou quando se aproximou rapidamente, como se da minha boca fosse extrair o elixir que salvaria sua vida naquele instante. Debruçou sobre meu corpo e me abraçou forte. Seu pau, tão duro quando o meu, roçava minhas pernas e me provocava ainda mais ao morder meus lábios. Rafael colocou uma das mãos dentro do meu short, estimulando meu pau numa masturbação tímida. Enquanto me beijava, sussurrava palavras que eu não consegui entender, mas que arrepiavam os pelos da minha nuca. 

Transaríamos ali mesmo se não fossemos interrompidos por uma voz que gritava ao longe. “Rafael! Rafael”. Era seu primo Ricardo, naquele momento, o maior empata foda do mundo inteiro.

- Puta que o pariu! – Rafael esbravejou tirando a mão que me masturbava.
- Péssima hora pro seu primo aparecer, hein? 
- Droga! Vou matar o Ricardo!

Rafael levantou apressado e vestiu o short. Ambos estávamos excitadíssimos e disfarçar era inútil. Não que devêssemos nada a ninguém, mas, de todo modo, aparecer de pau duro no meio de todo mundo não deixa de ser constrangedor. Ricardo veio correndo em nossa direção enquanto a gente tentava se recompor. Ao se aproximar, percebeu o que estava acontecendo e esboçou um pedido de desculpas meio que entre os dentes. Tarde demais, não tinha mais clima, ainda que algum imã parecesse querer nos juntar mais uma vez, ali mesmo, na frente de quem quisesse ver. 

Ricardo disse alguma coisa no ouvido do primo e voltou correndo. Rafael olhou pra mim com uma cara de menino pidão e um olhar cabisbaixo de quem foi dividido entre o desejo e a obrigação. Precisava voltar pro apartamento do tio, onde estava hospedado. Nos abraçamos fortemente e trocamos um olhar de despedida. Antes disso, trocamos telefone e prometemos manter contato. Ele demoraria a voltar para o Rio. Teríamos tempo de nos conhecer e terminar o que ficou pela metade. 

Fiquei por ali ainda por alguns minutos. Logo amanheceria e eu precisava pensar em algumas coisas. Ver o dia nascer talvez pudesse me ajudar. Ainda mantinha no rosto um sorriso bobo de quem custava a acreditar no que havia conhecido. As borboletas ainda atiçadas dentro do estômago pediam por mais. Mais Rafael, mais da sua boca e do seu corpo sobre mim.

Flávio

Um comentário:

Secrets disse...

Meu Deus, que sorte. Chamar isso de rato não seria mero exagero, já que é o sonho de muitos, um lindo na praia e ainda te pegando.