23 de janeiro de 2014

Recomeços

"- Acho que descobri em você aquilo que faltava nos meus dias.
- Calma. Não sei lidar com isso. Posso te machucar com meu jeito torto.
- Há arranhões que valem a cicatriz!"


Subir no ônibus, descer na rodoviária de uma estranha cidade, escolher a roupa do primeiro dia de aula na faculdade ou abrir, pela primeira vez, a porta do seu novo apartamento. Sempre vivi de impulsos, de sonhos imaginados naquela cidade pequena do interior, do repetido lema: “quando eu passar no vestibular”. Não é que o bendito sonho chegou? Com toda realização sempre virá uma dose de coragem para se desprender de algo. Deixar a companhia dos amigos, deixar o conforto de casa ou deixar um pedaço de uma história que você nunca imaginou acontecer daquela forma.

Quando saiu o resultado do vestibular, saiu o resultado da minha relação com Pedro. Conheci ele no colégio: o novato um ano mais novo. Moreno claro, cabelos pretos quase sempre mantidos no melhor estilo militar, olhos cor de mel e um sorriso largo. Nunca tinha me envolvido com meninos. Nada de beijos, nada de paqueras pessoalmente, nada de nada bem resolvido. Ainda estava no 2º ano do ensino médio e não queria ser taxado como o viadinho do colégio.

Nossa aproximação só aconteceu porque ele era amigo de Carol, uma amiga minha de sala. Era aniversário dela e, como uma legítima menina popular, Carol deu uma festa em sua casa e convidou muita gente da cidade inteira. Entre os grupinhos, Pedro acabou ficando junto com a gente, já que era o único da sua turma que havia sido convidado. Acabei descobrindo que ele também adorava Coldplay e Muse e que tinha mudado de colégio porque seus pais acabaram voltando da capital e ele não tinha como ficar sozinho por lá, já que a família era toda do interior.

O papo foi engatando naturalmente e com o tempo passamos a nos falar com mais frequência. Trocamos MSN e o contato se tornou diário. Acabei ajudando ele com algumas coisas do colégio, já que eu era mais velho, e, passávamos bastante tempo juntos: trilhas pela cidade, noites com amigos ou até finais de semana no sítio dos meus pais. Em uma tarde, Pedro me pediu para ajudá-lo com o assunto de Literatura do colégio. Em meio aos estilos de Alberto Caeiro e Bernardo Soares, Pedro me olhou de uma forma diferente enquanto continuava lendo os versos de um poema de Pessoa: “Ah, mas se ela adivinhasse / Se pudesse ouvir o olhar / E se um olhar lhe bastasse / Pra saber que a estão a amar!”.

Tinha um carinho especial por Pedro, mas sempre achei que era coisa da minha cabeça e que qualquer passo em falso poderia colocar nossa amizade a perder. Mas naquele momento, tive certeza de que as coisas não aconteciam apenas em minha cabeça. Sem precisar dizer mais nada, apenas sorri como sinal de que tinha entendido e que era capaz de ouvir sim aquele olhar. Ele sorriu e abaixou os olhos, como se tivesse dito demais. Não resisti e o beijei. Mesmo sendo o primeiro beijo em um cara, não senti nada de estranho depois, apenas senti carinho e companheirismo, uma cumplicidade que dividimos aquela tarde na cama de solteiro de seu quarto e nas histórias de dois meninos com desejos secretos naquela pequena cidade.

Pedro me ensinou muita coisa. Apesar de mais novo, já havia namorado e aproveitado muito em Salvador. Mantivemos tudo em segredo. Nossos encontros rápidos no banheiro do colégio, nossas mensagens de celular no final da noite e as noites em viagens do colégio, quando dividíamos o quarto naquele velha regra de “meninos separados das meninas”. Ah, que bela regra! 

Foi justamente em uma dessas viagens que descobri o que era transar com outro homem. Fomos para Porto Seguro, minha última viagem do colégio. Chegamos perto do almoço, deixamos as coisas no hotel e todo mundo foi almoçar. À tarde, passeios pela parte histórica da cidade. Lembro de quando a gente entrou na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha. Bem simples, com aquele gramado verde do lado de fora. Um guia explicava toda a história daquela região, quando, de repente, percebo Pedro tentando me fazer olhar pra ele lá na frente da Igreja. 

- Quer casar comigo? – balbuciou com a boca depois que eu consegui notá-lo.

Caí na risada sozinho, mas não respondi. À noite, depois de um passeio pela conhecida Passarela do Álcool, voltamos para o hotel. Pedro ainda estava meio chateado pela minha não resposta. Ficamos na área da piscina com uma parte do pessoal que resolveu tocar violão e contar histórias. Não demorou nada ele subiu para o quarto. Sabia que aquele era o momento e subi. Tinha comprado dois anéis desses que vendem em barraquinhas pela cidade e guardado na mochila sem ele ver. Cheguei, ele já tinha deitado, mas estava com a luz do abajur acesa. Peguei a caixa com os anéis, deitei por cima dele e, antes que ele começasse a me bater ordenando que eu saísse de cima, coloquei os anéis na mão dele, fechei e disse “sim”.

Vi os olhos de Pedro sorrirem. Nos beijamos, colocamos os anéis e ele veio para minha cama. Aos poucos, os beijos foram esquentando e as roupas caindo pelo chão. O olhar de Pedro era provocador, me despertava as vontades mais sacanas possíveis. Nunca tinha transado com outro cara, apenas meninas. Já estava só de short e Pedro usava uma cueca branca que ressaltava ainda mais a pele morena queimada de praia dele. Para completar, Pedro deitou com a bunda para cima. Fui beijando cada pedaço do corpo do meu neguinho, do menino que hoje seria ainda mais meu. Cheguei até a cueca e fui tirando bem devagar, descobrindo cada pedaço daquela marquinha de sol. Ele me olhava com o sorriso mais filho da puta possível. Nessa hora, já estava explodindo de tesão, precisava experimentar aquilo tudo.

Pedro levantou, tirou meu short e me chupou com tanta vontade que eu quase termino a noite ali mesmo. Só tinha sido chupado por duas gurias, mas aquilo ali não tinha como comparar, era covardia. E o pior de tudo: ele sabia que chupava bem, que me deixava louco e provocava ainda mais. 

- Tá gostando, tá? – perguntou com o olhar mais sacana possível.

Não aguentava mais e segurei os braços dele com força, o joguei na cama e respirei fundo, como quem se prepara para um combate. Deitei por cima do seu corpo e deixei meu pau passar bem perto daquela bunda, que por sinal era avantajada o suficiente pra me deixar ainda mais excitado.

- Agora é você quem vai gostar – sussurrei bem perto do seu ouvido, provocando o primeiro gemido de Pedro naquela noite.

Coloquei a camisinha, passei lubrificante em mim e fui colocando alguns dedos melados nele. Queria que tudo fosse gostoso para os dois, que ele não sentisse nenhum tipo de dor, só prazer. Um dedo, dois dedos e sentia ele me apertando. Pedro gemia e implorava para eu colocar logo, que ele não aguentava mais. Era minha hora de retribuir toda provocação.

Levantei a bunda dele pela cintura, coloquei um travesseiro embaixo e comecei a penetrar ele. Com cuidado, tirando sempre que ele pedia, não demorou muito e eu já estava dentro de Pedro. O ritmo foi acelerando, a cada gemido mais forte, minha vontade de foder ele era maior. Ele já estava de quatro na cama. Aquela visão era demais para mim. Meu neguinho completamente entregue a mim, aberto, me esperando para lhe dar prazer. Segurei seu cabelo com força, puxei seu corpo para perto do meu e comia ele com a pressa de quem nunca tinha experimentado uma foda tão gostosa na vida. O suor das nossas peles se misturavam e eu já não sabia como aguentar muito tempo.

- Não dá pra segurar mais. Ahhh... vou gozar, Peu... Ahhhhh...

Não tinha visto, mas Pedro já tinha chegado ao orgasmo antes de mim. Acho que tinha mandado bem para uma primeira vez né? Deitamos cansados na cama, mas felizes. Éramos, de fato, namorados. Com direito a anéis, beijos escondidos e transas gostosas todas as outras noites e nos meses que seguiram depois da nossa volta de Porto Seguro.

Mas tudo foi se perdendo nas semanas que antecederam minha vinda para Salvador. Precisava fazer minha faculdade, crescer, sair de casa, mas Pedro não entendia. Dizia que eu queria pegar outros caras, deixar ele, desistir da gente, do nosso amor. Ainda o amava, ainda sentia o gosto de cada beijo nosso, mas precisava dizer adeus. Pedro era parte daquela vida que deixei nas ruas estreitas da cidade onde eu nasci. Trazer nossa relação era me manter preso aquele lugar, que mesmo sendo meu, eu precisava me desligar por um tempo para viver um novo sonho. Acho que isso fazia parte da missão de recomeçar a vida.

Assim aconteceu quando desci do ônibus com uma mochila nas costas e uma mala na mão. Pedro não veio na mala, mesmo que ainda tivesse um pedaço grande do meu coração.

Mateus

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