19 de janeiro de 2014

Uma justa despedida

"- Cheguei bem, tô caindo de sono, mas não me arrependo da nossa noite. Até breve. Rafa. - acordei com essas palavras numa mensagem do Rafael às dez da manhã.
- Boa sorte na entrevista, mas não vá seduzir ninguém pra conseguir a vaga. Um beijo. - respondi em seguida, lembrando o quão sedutor ele sabia ser."


Depois de quase uma semana desde que nos conhecemos, Rafael me ligou. Aquele mesmo, o cara do Rio, olhos claros, voz gostosa com sotaque e um corpo incrível. Era quase fim de tarde quando o celular tocou e o visor mostrou um número desconhecido. Apesar de ter gostado do que aconteceu aquele dia na praia, eu não registrei seu número no meu celular e imaginei que ele havia feito o mesmo. Sei lá, ando meio cansado de criar expectativas e não tenho saúde alguma pra relacionamentos à distância. Tá, foi apenas uma ficada (quente, eu sei) no meio de uma festa, mas a gente sempre pensa em todas as possibilidades quando avista alguém bacana, mesmo sem acreditar em nenhuma delas. 

Atendi com um simples “oi” e esperei pela resposta. Quando identifiquei a voz vinda do outro lado da linha, meu estômago pareceu ganhar vida, movido pelas borboletas que resolveram dar o ar da graça mais uma vez. Malditas borboletas!

- Flávio, como vai? Rafael falando. Lembra de mim?
- Oi, Rafa! Claro que lembro. Impossível esquecer você. Tudo bem?
- Agora mais ainda. Feliz por você não ter me esquecido. Tô indo embora amanhã, preciso te ver.

Essa última frase me paralisou um pouco. Dizer que precisava me ver soava com uma urgência desesperadora, assim como o impulso do nosso primeiro beijo. Respondi apreensivo pelo rumo daquela conversa. Adoraria ter o Rafael sobre mim mais uma vez.

- Uai, me veja então!
- Topa sair hoje à noite?
- Claro! Barzinho? Restaurante? Acarajé da Dinha?
- Acho que a gente pode ir a algum barzinho mesmo. Confesso que comer acarajé não foi uma experiência muito agradável - Rimos e ele continuou. – Olha, peguei emprestado o carro do meu tio. Posso passar aí pra te pegar e decidimos pra onde ir, o que acha?
- Pode ser. Às oito? 
- Às oito.
- Até lá.
- Até.

Estava debruçado na janela do apartamento e lá permaneci por mais um instante. Fiquei olhando os carros apressados na rua, tão acelerados quanto meu coração. Logo me peguei observando uma senhora de cabelos branquinhos, andando pela calçada com um cachorro de pelos tão alvos quanto os cabelos de sua dona. Toda a calma e paciência com que andavam, como se medissem cada passo, representavam o andamento do meu cérebro naquele momento: racional, medindo cada movimento do meu coração afoito. Longe de estar apaixonado, mas Rafael mexia comigo. Ter a certeza da sua partida era um alívio e eu me apegava a esse fator para não me deixar levar mais do que podia.

Tomei um banho apressado quando me dei conta dos ponteiros do relógio. Vesti uma blusa listrada, um short jeans e um mocassim. Estava naqueles dias não muito raros em que nada parecia cair bem, mas não ia fazer disso um motivo para desmarcar tudo. Ele chegou às oito em ponto, como o combinado, e já desceu do carro de braços abertos para um abraço forte. Muito cheiroso, vestia uma camisa de gola pólo que realçava seus músculos tão excitantes. 

Trocamos um “oi, e aí” automáticos e sem resposta antes de entrar no carro. Ainda sem destino definido, seguimos pela rua no meio de tantos faróis em movimento. Decidimos ir para um barzinho na orla da Barra pra tomar alguma coisa e conversar. Tivemos a sorte de achar uma mesa vazia e mais sorte ainda de encontrá-la num cantinho afastado. Rafael gostava de tomar a frente da situação e tinha um poder de convencimento que derrotava qualquer argumento que eu pudesse ter. Eu queria caipirinha, mas ele pediu cerveja, e mesmo sem fome, me fez acompanhá-lo numa porção gigantesca de batatas fritas.

Ele segurou minha mão por debaixo da mesa e fixou meus olhos com o verde vivo dos seus. Mais uma vez, o magnetismo que saia do seu corpo como fios invisíveis se emaranhava por todo meu corpo em nós completamente cegos. Quebrei o silêncio.

- Achei que você fosse ficar mais tempo por aqui – perguntei enquanto ele acariciava minha mão com os dedos.
- Pois é, cara, eu adoro a Bahia e queria ficar mais. Mas preciso resolver umas coisas lá no Rio.
- Trabalho?
- É, me ligaram pra uma entrevista de emprego num escritório super conceituado de lá. Já faz um tempo que eu to tentando essa vaga. Não posso perder a oportunidade. Mas não quero falar disso.

Rafael pôs a mão sobre minha perna e a apertou de leve enquanto se aproximou devagar para me beijar o rosto. Percebi alguns olhares vindos das mesas ao lado, então provoquei emendando o movimento em um beijo calmo. Ele riu, surpreso com minha atitude, já livre de qualquer vestígio de timidez. 

- Quero te levar a um lugar. – Rafael fez cara de quem tava aprontando alguma coisa.
- Onde? – respondi um pouco incrédulo.
- É surpresa, você logo vai saber.

Foi até o caixa e pagou a conta. Levantei em seguida e fui em direção ao carro, ciente de que ele não deixaria que eu pagasse minha parte. Ele apareceu segundos depois e entramos no carro. Do porta-luvas tirou uma venda . “Quero que use isso aqui”, ele disse. Percebi que havia entrado numa brincadeira, mas não fazia ideia de onde ela me levaria. 

- Opa! Não vou usar isso – disse relutante.
- Ah, vai sim! Quero que seja surpresa – vendou meus olhos sob meus protestos, os quais tentou cessar com um beijo atrás do outro.

Eu que sempre fui adepto de boas “brincadeirinhas”, me senti de mãos atadas naquele momento. Ele deu partida e pôs pra tocar uma música familiar: “Depois de ter você / Pra quê querer saber / Que horas são?”. A voz de Calcanhotto foi a única coisa que eu ouvi enquanto Rafael dirigia o carro na direção de qualquer lugar. Não tinha noção pra onde ele me levaria, mas entrei no jogo sem nem saber quais cartas usaria.

O carro parou e quando ele abriu a porta pra mim, ouvi o barulho das ondas e o cheiro do mar chegou tão arrebatador quanto o nervosismo de quase entender o que acontecia.

- Chegamos! – disse tirando a venda dos meus olhos, apontando um caminho pela areia. 
- Você é louco! – retruquei rindo.
- Só quero terminar o que a gente começou aquele dia. 

Ele havia me trazido à mesma praia onde nos conhecemos. Uma surpresa boa e extremamente provocante. Senti sua mão apertar minha cintura pra me conduzir até uma espécie de cabana improvisada alguns metros de onde estávamos. Já lá dentro, Rafael me puxou pra perto e me beijou num ritmo rápido, cheio de mãos. A mesma urgência desesperada, movida pela necessidade de ter tudo ao mesmo tempo. Não demorou até que estivéssemos completamente sem roupa e com os desejos à tona. 

Percorri com as mãos cada relevo do seu corpo enquanto ele me beijava a boca, o rosto, descendo pelo pescoço e voltando pra mordiscar de leve minha orelha. Segurei seu pau e o masturbei devagar, sentindo que ele ficava mais duro ao meu toque. Rafael ficou de joelhos e me chupou com a mesma intensidade de cada beijo seu. Precisei me concentrar pra não acabar com a brincadeira antes da hora. Havia uma grande colcha cobrindo o chão. O empurrei sutilmente, obrigando-o a se deitar. Me deitei sobre ele e o chupei também, fazendo com que ele gemesse e se contorcesse. 

Voltei a beijá-lo e nossos corpos já suados começaram a exalar um cheiro viciante. De certo modo, a gente parecia haver combinado uma coreografia sem erros, em movimentos que se encaixavam. Em alguns momentos ele me dominava completamente. Num deles, Rafael me pôs de bruços e depois de cobrir seu pau com uma camisinha que trazia na carteira, me penetrou devagar até estar todo dentro de mim. Meu corpo, sensível e totalmente entregue, estremeceu da cabeça aos pés. Com movimentos lentos, ele me comia sem pressa, como se quisesse prolongar ao máximo aquele momento. Mudamos de posição para que ele pudesse segurar meu pau, beijando meu pescoço carinhosamente. Os movimentos ficaram mais rápidos e ele parecia não querer parar. 

Prestes a gozar, Rafael me masturbou com movimentos tão rápido quanto os do seu quadril. Numa intensidade assustadora, gozamos praticamente no mesmo instante com um gemido que ecoou pelo ar. Deitamos exaustos, um do lado do outro, olhando pro teto da cabana que deixava escapar um pedaço da noite por uma fresta. 

- Uau! – dissemos em sintonia.
- Você é muito gostoso – eu disse, sem conseguir fitar seus olhos.
- Faço o que posso! – ele respondeu com um sorriso descarado.

Ficamos ali nos olhando, ele fazendo cafuné na minha cabeça enquanto eu desenhava, com os dedos, círculos imaginários em seu peito ainda nu. Eu queria ter minha câmera naquele momento só pra lembrar com detalhes do seu sorriso satisfeito e da sua cara cansada após uma transa incrível. Não demoramos muito ali depois que percebemos já passar das duas da manhã. 

Na volta, conversamos muito sobre o passado e sobre o futuro. Planos distintos, cheios de sonhos e tantos obstáculos a superar. Não sei se Rafael era o tipo de cara que me faria perder o medo de entrar de cabeça numa relação, mas certamente era o tipo que me fazia perder a cabeça numa foda no meio da semana. Ele viajaria no dia seguinte, sem previsão de uma nova visita à capital da Bahia. Ao parar o carro na frente do meu prédio, nos beijamos em despedida. 

- Até mais, Rafa.
- Até mais, Flavinho. Fica bem, ta?
- Você também. Boa viagem!
- Um beijo! Adorei te conhecer.
- Se cuida. 

Saí do carro com um sorriso que permaneceu até o elevador parar. Dei uma espiada no quarto do Mateus pra ver se ele ainda estava acordado. A cama arrumada era sinal de que ele também teria alguma coisa pra me contar sobre aquela noite de terça-feira. 

Fui dormir depois de um banho frio, um café quente e poesia do Dummond.

Flávio

Um comentário:

Anônimo disse...

Perfeita história... imaginei-a do início ao fim. Parabéns Flávio, continue nesse ritmo. Tens muito a oferecer a nós meros leitores.